ATA DA VIGÉSIMA PRIMEIRA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 25.6.1991.

 


Aos vinte e cinco dias do mês de junho do ano de mil novecentos e noventa e um reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Vigésima Primeira Sessão Solene da Terceira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada à entrega dos Títulos de Cidadãos Eméritos à Senhora Emília Lamprecht e ao Senhor João Francisco Ferreira, concedidos através dos Projetos de Resolução n°s 51/90 e 34/90 (Processos nºs 2256/90 e 1613/90, respectivamente), de autoria dos Vereadores Airto Ferronato e Letícia Arruda. Às dezessete horas e dezesseis minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Vereador Antonio Hohlfeldt, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Senhora Emília Lamprecht, Homenageada; Senhora Herta Hess, Filha da Homenageada; Senhor João Francisco Ferreira, Homenageado; Senhora Lília Ferreira, Esposa do Homenageado; Senhora Elly Rotermund; Senhora Judith Dutra, representando o Prefeito Municipal de Porto Alegre; Vereador Omar Ferri, 2º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Vereadora Letícia Arruda, Secretária “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente desculpou-se face a exigüidade de espaço do Plenário, visto que a Casa encontra-se em obras. Em continuidade o Senhor Presidente registrou a presença, no Plenário, dos Senhores Rasso, Regina, Bárbara, Mônica, Marianne, Suzanne e Henrique Lamprecht, filho, nora e netos da Homenageada, dos Senhores João e Ricardo Ferreira, filhos do Homenageado, e, ainda, do Senhor Salvador Vizzotto, ex-Procurador do Município. Após, o Senhor Presidente solicitou ao Vereador Omar Ferri que assumisse à Mesa, a fim de que se pronunciasse na Tribuna. O Vereador Antonio Hohlfeldt, em nome das Bancadas do PT, PMDB, PDS, PTB, PCB, PFL, PSB e PL, a pedido, do Vereador Airto Ferronato, em Representação Externa desta Casa, fez pronunciamento aos Homenageados, falando sobre a vida da Senhora Emília Lamprecht, da sua preocupação com o próximo como voluntária da Cruz Vermelha e na Junta de Imigração Alemã. Ressaltou a importância da atuação da Homenageada na Santa Casa de Misericórdia. Reportou-se à carreira de professor do Senhor João Francisco Ferreira, mencionando as dificuldade na época da ditadura militar, cumprimentando os Homenageados pelo desempenho de suas funções com a comunidade porto-alegrense. Na ocasião, foram ouvidos números musicais apresentado pelo Coral Arco Iris. A seguir, a Vereadora Letícia Arruda, em nome das Bancadas do PDT, PTB, PDS, PCB, PFL, PSB e PL, falou sobre as obras do Senhor João Francisco Ferreira, que, fortalecido por seu avô, seguiu a trilha da literatura hispano-americana, fundando o Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, comentando os principais livros por ele escritos em prol de nossa cultura. Ressaltou que esta iniciativa é uma forma de Porto Alegre agradecer e reconhecer o Homenageado como peregrino da cultura, saudando os congratulados. Após, o Senhor Presidente convidou a Vereadora Letícia Arruda e a Senhora Berta Hess a procederem à entrega dos Títulos Honoríficos de Cidadão Emérito, respectivamente, ao Senhor João Francisco Ferreira e à Senhora Emília Lamprecht, concedendo a palavra aos Homenageados, que agradeceram o Título hoje recebido. Na ocasião, o Senhor Presidente registrou o recebimento de Fonogramas do Senhor Sérgio Gonzaga e da Associação Riograndense de Imprensa. Às dezoito horas e dezessete minutos, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Antonio Hohlfeldt e Omar Ferri e secretariados pelos Vereadores Omar Ferri e Letícia Arruda, Secretária “ad hoc”. Do que eu, Letícia Arruda, Secretária “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Antonio Hohlfeldt): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene.

Falarão na tarde de hoje: este Vereador, com a representação do Ver. Airto Ferronato, proponente da homenagem à Srª Emília Lamprecht, mas que se encontra em Natal, por designação da Mesa Diretora, numa representação da Câmara de Vereadores, onde se desenvolve um Encontro de Presidentes de Mesas Diretoras, no sentido de preparar os trabalhos conjuntos de Leis Complementares, em relação às Leis Orgânicas Municipais; falará, também, a Verª Letícia Arruda, que é a proponente da homenagem ao Prof. João Francisco Ferreira.

Solicito ao Ver. Omar Ferri que assuma a Presidência dos trabalhos para que, em nome do Ver. Airto Ferronato, e das Bancadas do PMDB, PDS, PTB, PCB, PFL , PSB, PL e PT, meu partido, eu possa me dirigir aos homenageados.

 

(Às 17h20min o Sr. Omar Ferri assume a Presidência.)

 

O SR. PRESIDENTE (Omar Ferri): De imediato, passamos a palavra ao Presidente da Casa, Ver. Antonio Hohlfeldt.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Como disse, o Ver. Ferronato precisou fazer uma viagem de última hora na representação da Casa, e me designou, para honra minha, fazer a sua representação nesta cerimônia. Quero dizer que para mim é um momento muito especial poder participar desta cerimônia, porque tenho aprendido, ao longo dos anos, a ter um respeito muito tranqüilo, muito profundo pelas pessoas que chegam a uma certa idade com a mesma força, com a mesma disciplina e decisão de vida, e com esta palavra vida quero dizer, não apenas sofrer a vida, ou receber a vida, mas o participar da vida como a senhora fez, e continuará fazendo. Por outro lado, esta Sessão inclui a homenagem ao Prof. Ferreira, proposição da Verª Letícia Arruda, que também está conosco, no Plenário, que me dá oportunidade de dizer ao Prof. Ferreira tudo o que devo a ele, como seu ex-aluno, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Portanto, passo a ler, Dona Emília, a mensagem que o Ver. Airto Ferronato solicitou que lhe transmitisse, à qual, com muita alegria, junto minhas palavras. (Lê.):

“Senhoras e Senhores:

É com muita alegria que nos reunimos hoje nesta Sessão Solene para homenagear a Srª Emília Lamprecht com o título de Cidadã Emérita. O Projeto de Resolução é de autoria do Ver. Airto Ferronato, que infelizmente não se faz presente por estar em Natal, participando do Congresso Nacional de Vereadores.

Nossa homenageada nasceu na África, em Windhoek, Namíbia, onde seu pai exercia o cargo de prefeito. Com um ano e meio de idade transferiu-se para Munique, Alemanha, onde realizou seus estudos. Com a morte do pai, Dona Emília, então com 17 anos, e sua mãe emigraram para o Brasil, no Município de Estrela, onde passou a trabalhar como enfermeira e assistente do Dr. Welke.

Na ocasião, conheceu um médico recém vindo da Alemanha, o Dr. Joachim Lamprecht, com quem se casou em 1928 e teve dois filhos. O casal abriu consultório em Lajeado e mais tarde assumiu o consultório do Dr. Welke, em Estrela, até 1956. Nestes anos todos dividiu sua vida com as agruras da comunidade, muitas vezes se deslocando a cavalo, horas e horas, para assistir um paciente.

Sempre voltado ao próximo, o casal Lamprecht fez campanhas em prol dos asilos Pella e Bethania, de Taquari, bem como pela Alemanha, após a II Guerra Mundial, com o envio de roupas e alimentos, através da Cruz Vermelha.

O casal transferiu-se para Porto Alegre, onde já estudavam os filhos, quando o Dr. Lamprecht adoeceu, vindo a falecer um ano após.

Inconformada com a perda do companheiro, Dona Emília retornou à Alemanha, pra visitar o irmão, permanecendo lá por um ano. De volta ao Brasil, passou a se dedicar novamente ao próximo, estimulada pelo Pastor Bantel, fundador da Assistência Social da Comunidade Evangélica de Porto Alegre. Ali começou a trabalhar como voluntária e, posteriormente, como funcionária da entidade. Freqüentou cursos de aperfeiçoamento em Serviço Social e integrou-se ao grupo de visitadoras da Santa Casa de Misericórdia, formado pelo Pastor Kirst. Fundou, então, em sua própria casa, a “FLICKSTUBE” - Sala de Costuras - hoje com cerca de trinta participantes. Ali são consertadas roupas, cortados tecidos, costuradas novas peças, para distribuição entre a população carente.

Outra atuação meritória de Dona Emília merece destaque: o trabalho que desenvolveu com a Junta de Imigração, auxiliando muitos alemães radicados no Brasil, na época não-naturalizados, sem direito à Previdência Social ou seus benefícios. Esta valiosa colaboração valeu-lhe a comenda “BUNDESVERDIENST-KREUZ AM BANDE”, conferida pelo Governo Alemão.

Mas nossa homenageada parece não se contentar com o muito que já fez e faz: dedica-se, também, ao Grupo de Idosos Arco-Íris. Sendo uma de suas fundadoras, assumiu tarefas de secretaria e tesouraria, promoção de encontros permanentes e excursões bimensais. Integra, ainda, na condição de conselheira, o Conselho Estadual do Idoso, representando aquela entidade.

Por sua tenacidade e desprendimento, dedicação ao próximo e exemplo de solidariedade humana, a Câmara Municipal de Porto Alegre confere, hoje, à Srª Emília Lamprecht o título de Cidadã Emérita.

Receba, Dona Emília, a singela homenagem desta cidade que há oitenta e quatro anos lhe pertence.”

Passagens por exemplo, em que mostram os trabalhos fantásticos que o casal Lamprecht viveu no interior dessa província, no desenvolvimento de suas tarefas, cruzando a colônia de ponta a ponta no tempo em que nós não tínhamos asfaltos, não tínhamos cidades propriamente ditas, enfrentávamos barro, tempestades e, sobretudo, estes trabalhos que, ao longo de anos, Dona Emília permanentemente liderou, incentivou, idealizou, e que mostram exatamente que não satisfeita em assumir uma nova terra de adoção, resolveu intervir, resolveu participar da vida cotidiana desta nova terra, sem dúvida nenhuma, por isso mesmo sendo ela hoje, não tenho dúvidas, muito mais brasileira, muito mais rio-grandense, muito mais porto-alegrense do que muitos que aqui nasceram. Esta homenagem, Dona Emília, que nós queremos lhe prestar, através dessa Sessão, quando a senhora tem 84 anos de vida. Eu me permito aqui, um rápido episódio que ocorreu agora na sala, e que eu acho que diz muito bem do que é a Dona Emília e da força da Dona Emília. No Projeto de Lei, por um erro de datilografia, constavam os 82 anos da Dona Emília, e ela disse: não, são 84 e eu quero que conste os 84. Quando tanta gente esconde a sua idade, a Dona Emília faz questão de afirmar e garantir esta sua idade com muita honra, com muita coragem.

Portanto, Dona Emília, o nosso abraço muito carinhoso à Senhora, a sua filha, Dona Herta, a toda a sua família. (Palmas.)

Eu me permito, agora, me referir ao meu professor João Francisco Ferreira. E vou me permitir, meu professor, falar bem menos formal, na medida em que fiz questão de não trazer nenhum texto escrito, porque quero recordar, como já tenho tido a oportunidade de fazer, aqui, em diferentes momentos, alguns bons e difíceis anos da nossa Universidade Federal do Rio Grande do Sul, cuja sina, ao que parece, definitivamente, é ter mais difíceis anos do que bons. Veja-se a situação que hoje enfrentamos, novamente, nas universidades federais de todo este País.

Mas as dificuldades que quero mencionar e relembrar aqui nesta homenagem ao Prof. Ferreira eram um pouco diferentes, elas partiam da mesma situação de hoje: falta de dinheiro, falta de material, dificuldade de espaço, descrença no processo educacional, mas tinha um complicador a mais, que era a ditadura militar. E o Prof. Ferreira, que tinha um ar de poeta, que tinha uma figura de galã - como diziam as suas alunas, permanentemente, nos cursos de Letras, sobretudo - surpreendia, porque ele entrava na aula muito despretensiosamente e começava a falar, falava de algumas coisas razoavelmente proibidas na época: falava de Brasil, falava de América Latina, falava de hispanidade, falava de Latino-América.

E lembro muito bem, porque eu conheci o Prof. Ferreira na graduação e depois fui ser seu aluno formal na pós-graduação em Letras. E o Prof. Ferreira também inovava. Era um dos poucos que tinham coragem de inovar, porque se dava ao luxo e à coragem de fazer seminário com os seus alunos - ele não ia lá deitar falação e deixar seus alunos ouvindo sem poderem intervir. Ao contrário, ele propunha uma coisa muito cansativa para os alunos, ele propunha leituras e na aula seguinte, debates sobre estas leituras. E foi a partir disto que muitos de nós fomos gradualmente nos inteirando de coisas da América Latina, do processo cultural da América Latina. E não foi portanto, por um acaso que o Prof. Ferreira muitos anos depois, foi trabalhar em alguns países da América Latina de fala hispânica, dentre os quais o México, e de lá do México eu fiquei recebendo permanentemente as plaquetas lindas, o cuidado artesanal, editorial que se faz naquele País. E mais lindas, ainda, pela poesia que o Prof. Ferreira, de longe nos mandava, plaquetas que chegavam religiosamente através dos Correios e Telégrafos na minha caixa postal, sobre as quais, inclusive, pouco tempo atrás, desenvolvia um pequeno ensaio.

Um poeta que não teve exatamente esta vida literária tradicional, que todos desejam ter, um professor que não teve essa prática, que, infelizmente, é mais comum do que nós gostaríamos que fosse nas nossas universidades, que depois que alcança a cátedra, que depois que se torna o principal mestre daquela cadeira, se aquieta, deixa de publicar, deixa de ler, deixa de discutir; pelo contrário, o Prof. João Francisco Ferreira, por trás de uma fleuma, todos vocês vão ver, é quase britânica, ele tem uma força, ele tem uma indagação permanente, ele tem um desafio, eu diria alta e positivamente provocadora a todos os seus alunos. Isto eu devo, Prof. Francisco Ferreira, ao Senhor, como ex-aluno, e hoje, para minha alegria na condição de Vereador desta Cidade e na condição, eventualmente neste ano, de Presidente desta Casa.

Através da proposta da Verª Letícia Arruda, devo também ao Senhor de estar aqui, hoje, presidindo e participando desta Sessão que nos dá tantas alegrias.

Só espero que o Sr. Ferreira, agora jubilado, como ele faz questão de dizer, possa produzir, efetivamente, toda aquela poesia que carregou consigo durante a vida, transformando-a nos poemas que nós queremos continuar a ler, ainda, durante muito tempo.

Um abraço, Professor, e espero encontrá-lo muitas vezes, pessoalmente, senão ao vivo, pelo menos nos seus livros e nos seus poemas. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Anunciamos a presença e a apresentação do Coral Arco-Íris, sob a regência da maestrina Lili Dias, que executará a música “Meu Pago”, cujo autor é M.C. Resivua.

 

(O Coral Arco-Íris se apresenta.)

 

O SR. PRESIDENTE (Antonio Hohlfeldt): Com a palavra a Verª Letícia Arruda, proponente do título ao Prof. João Francisco Ferreira, que falará pelas Bancadas do PDT, PDS, PTB, PCB, PFL, PSB e PT.

 

A SRA. LETÍCIA ARRUDA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Senhoras, Senhores, alunos, amigos, companheiros, irmãos, autoridades presentes, convidados, funcionários da Casa. (Lê.):

“A Câmara Municipal de Porto Alegre vive hoje mais um dia de júbilo pela oportunidade de reverenciar um dos maiores expoentes da literatura regional, do Brasil e da América Latina.

Poeta e escritor vanguardista, reconhecido pela crítica literária nacional e internacional pelo valor inconfundível de suas obras, sobretudo hispano-americanas, na busca de uma nova comunhão com o humano.

É a este homem que teve sua infância em Pelotas, cidade que mantém uma tradição cultural, semelhante a de grandes escritores como Simões Lopes Neto.

É a este menino que cresceu no casarão conhecido como “Casa Luzitana”, nome que serve de título a um de seus livros ainda inédito.

É a João Francisco Ferreira, que fortalecido no exemplo de seu avô materno, advogado e criador do jornal “Eco do Palmar”, seguiu a trilha da literatura. É a ti, prezado amigo, primo e irmão, filho da querida e inesquecível tia Lúcia, que Porto Alegre te presta hoje esta homenagem de apreço e carinho.

E neste momento em que os Vereadores desta Casa, por onde passam homens ilustres; reverenciam João Francisco Ferreira pelo legado conquistado através de seu magnífico trabalho desenvolvido na área cultural, cabe lembrar que este poeta foi o precursor do projeto de unificação da América Latina. Foi ele que fundou, em 1954, o Centro Brasileiro de estudos latino-americanos, extinto na ditadura militar. Neste período este renomado escritor exercia o cargo de assessor cultural da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Ali, João Francisco Ferreira desenvolveu uma atividade intensa de efervescência cultural, destacada pela imprensa do centro do país. Naquela época a Universidade cumpria o seu papel de fomentar as pesquisas e de preparar as elites favorecendo o intercâmbio dos mestres, como Ortega Y Gasset. Com João Francisco Ferreira várias conferências e concertos de música foram realizados dentro e fora da Universidade. Também a imprensa universitária praticamente restrita a impressão de material burocrático foi ativada através da edição de livros escritos por autores gaúchos e estrangeiros. Sabemos, porém, que hoje, a Universidade deixa de funcionar como centro gerador do saber e fórum de debates pela falta de recursos humanos e financeiros, e não cumpre bem nem a sua primordial função: a graduação de profissionais das várias áreas de ensino. João Francisco Ferreira, sabemos que tua conquista através do trabalho desenvolvido em prol da cultura tem um valor inestimável. Foi por teu intermédio que as atividades universitárias de Porto Alegre tomaram o rumo vanguardista de desenvolvimento da produção de cultura. E foi pela tua iniciativa que a velha Universidade, que mantinha um coral de câmara, consagrado nacionalmente, ganhou um cine-clube.

Como docente universitário, graças a teus conhecimentos e forte determinação pessoal, fizestes uma carreira rápida, tornando-te um dos mais jovens professores catedráticos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Na verdade começastes a lecionar muito cedo, já aos 15 anos de idade, no ensino secundário do Ginásio Pelotense, de grande prestígio no Estado, pela excelência de seu corpo docente. Ao mesmo tempo te iniciastes no jornalismo, como revisor, redator e cronista, publicando nos dois jornais desta cidade, o “Opinião Pública” e o “Diário Popular”, teus primeiros contos e poesias. Em Porto Alegre, antes de ingressares na Faculdade de Filosofia fostes redator da Secretaria de Agricultura, por indicação do falecido jornalista Breno Caldas, ex-proprietário de um império da comunicação, que se extinguiu com o passar do tempo. É por isso que hoje te rendemos esta singela homenagem de gratidão, pelo teu brilho, dinamismo e visão futurística. Não foi por acaso que até hoje o teu livro “Capítulos de Literatura Hispano-Americana” é recomendado por críticos e escritores de porte.

Desenvolveste um trabalho fecundo de diplomacia cultural, além de seres autor de vários livros que versam sobre a história e literatura da América Latina, considerados um marco no processo de modernização literária do continente. Com João Francisco Ferreira o Centro de Estudos Brasileiros do México, adscrito à Embaixada do Brasil, ganhou, no ano de 1985, o maior prestígio no meio literário, artístico e universitário mexicano. Neste período João Francisco Ferreira representa o Brasil na primeira reunião de intercâmbio acadêmico internacional, proferindo uma conferência sobre a “Situação da Universidade Brasileira”. Ao mesmo tempo promove “A Semana do Brasil”, na Universidade ibero-americana.

Com justiça, este talentoso escritor e poeta, colaborador dos jornais “Correio do Povo”, “Diário de Notícias”, e “O Estado de São Paulo”, precursor do atual Centro Cultural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, é reconhecido como um dos mais importantes escritores do Brasil e da América Latina.

João Francisco Ferreira muito obrigada pelo trabalho que desenvolvestes e ainda desenvolves pelo povo de nossa cidade e de nossa terra. Porto Alegre te agradece porque a integraste aos países latino-americanos.

Em nome do povo desta cidade aqui representado pela Câmara Municipal recebe, com afeto, querido Professor, amigo e irmão, o nosso reconhecimento a ti que és o peregrino da cultura.

Muita obrigada. Parabéns!”

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra à Senhora Elly Rotermmund Kohlmann, que falará em nome das entidades congêneres ao Arco-Íris, inclusive em nome do Conselho Estadual do Idoso e a Entidade que ela dirige, o Raio de Sol.

 

A SRA. ELLY ROTERMMUND KOHLMANN: Boa tarde: queria muito saudar o DD. Presidente desta Mesa Ver. Antonio Hohlfeldt, meu grande amigo, bem como a todos que lá estão sentados. A nossa amiga Frau Daughter Emília Lamprecht, o homenageado Sr. João Francisco Ferreira, fiquei muito contente e feliz porque ele é também poeta, porque todos gostam muito de poesias.

Mas eu nem devia estar em separado, aqui, em cima. Só fui lá para dizer umas palavras, mas me pegaram para ir lá para cima.

Porto Alegre, hoje, deveria fazer feriado, porque a nossa querida amiga Emília Lamprecht está sendo condecorada como Cidadã Emérita de Porto Alegre. Isso é algo formidável; muito, muito lindo. Deus sabe o dia, a hora, o que essa Senhora fez durante toda a sua vida que é para imitar, não ficar em casa, só pensar em si, nós temos que tirar o eu e pensar no teu. É muito mais bonita a vida pensando nos outros. Também o nosso querido homenageado Professor Ferreira, eu quero cumprimentar de coração. Uma pequena poesia para o senhor: não fiques de olhos fechados, olha ao redor de ti, há tantos necessitados no meu caminho, é só ter amor e bondade para ajudar, nossa vida não será mais vazia; para o bem ela irá mudar. Para o senhor. (Palmas.)

E a Dona Emília Lamprecht, ela disse bem certo que tem 84 anos, porque por mais idade que a gente tenha, a terceira idade é a idade da sabedoria. Cada vez a senhora fica mais inteligente, mais querida, mais fazendo para os outros. Eu vim com a minha mais jovem, Matilde, levanta uma vez, o Raio de Sol, eu só quero dizer ela só fez 89 anos. É que o Raio de Sol vai fazer onze anos, também é uma Entidade lá do 25 de Julho. É algo sensacional fazer algo para as pessoas da terceira idade. Eu fiz 76 e me sinto muito, muito jovem, e quero fazer muito, muito até no último instante da minha vida. Mas Srª Lamprecht, a pessoa idosa é ser feliz, muito feliz até. Não pense que a gente tem pouco cabelo branco. Não. É algo assim, maravilhoso. Eu perguntei quando era bem jovem, agora só sou jovem, naquele tempo eu era bem jovem. Eu perguntei a uma senhora de idade: A senhora nunca se incomoda? Ela disse: Não. Só me admiro. Isso é verdade. Admira para não ficar brava, se não a gente fica feia, sempre assim com cara feia. A gente tem que se admirar, então a gente fica jovem. E quando lembrei, da nossa querida Emília Lamprecht, olha para cá Dona Emília, porque o sorriso é a única coisa que não paga imposto ainda, então vamos sorrir. Não esqueçam, tá? Eu lembrei da Srª Lamprecht e fiz uma poesia para ela.

É meio difícil, mas eu consegui. Começa assim:

E, quando o coração está cheio,/ Muitas vezes, pode derramar!/ Isto aconteceu comigo,/ Logo eu vou a vocês contar./ Ilustre Senhora “Emília Lamprecht/ Emérita Cidadã de Porto Alegre” irei homenagear!

Levo a mensagem que quero dizer/ A Dona Emília com muito calor!/ Muitas boas obras ela já fez,/ Porto Alegre agradece, com muito amor,/ Rosas sem espinhos na sua caminhada/ E a Bênção de Deus, em tua vida!/ Cheio de amigos, está a Câmara, hoje!/ Todos cantam parabéns, Dona Emília querida! (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nós agradecemos a intervenção da Dona Elly Kohlmann, que, igualmente, tem feito um trabalho muito bonito em prol da terceira idade.

Passamos agora à entrega dos títulos. Eu convido a Srª Herta Hess para fazer a entrega do título à Srª Emília Lamprecht.

(É procedida à entrega do título.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Verª Letícia Arruda procederá à entrega do título ao Prof. João Francisco Ferreira.

 

(É procedida à entrega do título.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE: Neste momento, concedemos a palavra à Srª Emília Lamprecht.

 

A SRA. EMÍLIA LAMPRECHT: Quero agradecer emocionada à Câmara Municipal de Porto Alegre, à sua Mesa Diretora, ao Ver. Airto Ferronato, a minha família e a todas as pessoas que colaboram para que eu recebesse este título.

Sinto-me honrada e feliz e espero poder continuar com as minhas atividades ainda por muito tempo.

Agradeço também ao Coral Arco-Íris. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convidamos o Prof. Francisco Ferreira a ocupar a tribuna para igualmente fazer a sua manifestação.

 

O SR. FRANCISCO FERREIRA: Sr. Presidente, Verª Letícia Arruda, Srs. Membros da Câmara Municipal de Porto Alegre, senhoras e senhores.

As folhas são grandes, mas o texto é curto. Serei breve, dois ou três curtos parágrafos, apenas o espaço indispensável para responder à palavra de Letícia Arruda, tão generosa e tão gentil e aos nobres Vereadores da Câmara Municipal de Porto Alegre pela distinção que acabo de receber e também para saudar os amigos que aqui vieram para abrilhantar a solenidade.

Para começar, devo dizer que sou um daqueles que subscreve aquela idéia de que a glória, ou, generalizando, a fama, as honrarias, homenagens e condecorações, nada mais são, em geral, do que a soma de todos os equívocos que se formam em torno de um homem ou de um nome. Esta constatação é de um grande poeta alemão contemporâneo, Hilke, mas ele não é o único, o outro poeta, o grego Constantino Pietros Cavafis, na composição de número 139, dos poemas canônicos, e numa linha filosoficamente sartreana, mostra um monarca admirado pelo seu aspecto sóbrio, digno e intelectual, quando na verdade, seu único mérito era falar a língua grega. Ela, de fato, escondia a sua insignificância e vulgaridade. São, pois, duas advertências: de Hilke e Cavafis, que é preciso levar muito a sério as circunstâncias apontadas.

Não foi por soberba, por vício de orgulho, severa autocrítica ou então, ao contrário, por humildade jesuítica que no passado, tanto aqui como no exterior, onde trabalhei em universidades a serviço da diplomacia cultural do Itamarati, eu me tenha esquivado, no possível, a qualquer tipo de homenagens. Acho que o motivo real deve ter sido um excesso de consciência de mim mesmo, do tamanho de minhas palavras e do limite das minhas ações. Há uma frase de Alexandre Manzonni no romance “Os Noivos” tão dolorida e comovente que adotei e repito sempre que se faz necessário: “Eu não estava a pedir elogios que me mortificam, porque Deus conhece os meus erros e o que eu de mim próprio conheço basta para me confundir.”

Mas, diante da proposta de Letícia, menina que eu praticamente vi nascer, quando muito jovem, boêmio e sem emprego, fui morar boca-livre, na casa de seu pai e de seu tio, irmãos, os queridos irmãos Wilson e Antoninho. Eu não hesitei em aceitar o título honorífico de Cidadão Emérito, também por dois básicos motivos, porém antes de nomeá-los, eu quero dizer que por uma feliz coincidência esta Casa é presidida no momento por Antonio Hohlfeldt, também professor e escritor. E mais, ele é um daqueles que passaram por minha classe de pós-graduação de Filosofia. Ele me lembra por sinal um recurso pedagógico que eu adotava com os alunos dos meus cursos, e que havia roubado de Kant, de Emanoel Kant, filósofo, eu dividia a turma em três grupos.

O primeiro, da esquerda, eu dedicava toda atenção, acompanhava suas leituras e seus trabalhos, sentia suas dificuldades, e os atendia dentro e fora da classe. Esses alunos precisavam de mim. O contrário acontecia com os da direita, eu praticamente os deixava sozinhos. Eram alunos com grande leitura, inteligentes, criadores, caminhavam com seus próprios pés. O meu papel era de propor questões e observá-los, aliás com muito cuidado, para evitar ser por eles envolvidos. Sobrava a turma ou grupo dos alunos do meio, eu os ignorava. Eles estavam ali simplesmente para fazer presença e cumprir currículo, não sairiam nunca do mesmo lugar, para que perder o meu tempo? Eles ouviam as exposições, tomavam uma que outra nota e tudo acabava aí. Não preciso dizer que o Antoninho Hohlfeldt pertencia brilhantemente ao grupo da direita.

Eu preciso acrescentar que acho altamente honroso o título de Cidadão Emérito. Ele assenta muito bem ao professor universitário que sou, e também ao amador de poesia. Sabemos todos que, originalmente, em latim, a palavra se referia aos veteranos, aos soldados de valor, que terminavam seu tempo de guerra. Cícero e Ovídio a utilizaram nesse sentido. A palavra sofre as naturais modificações que, por analogia, passa a significar insigne, sábio, muito versado numa ciência ou arte. E o que é isto senão o professor universitário que motiva, que instrui e guia a juventude? E o que é a poesia, senão essa luta com as palavras, esse confronto de todo o ser com a realidade, na ânsia de observá-la? A poesia é, de fato, uma luta da alma, da mente e do corpo para compreender a vida, para trazer ordem ao caos ou aos fenômenos da existência.

Chego, enfim, aos dois motivos pelos quais aceitei também a proposta de Letícia Arruda, aprovada pela egrégia Câmara Municipal de Porto Alegre. Primeiro, porque desejo receber esta distinção também em nome daqueles que, como eu, passaram ou passam, a vida servindo a Universidade, às vezes anônima e obscuramente, mas sempre firmes e obstinados nas suas tarefas, sem outra preocupação senão a de contribuir para o desenvolvimento do espírito e da cultura brasileira.

Aqueles que nunca usaram a Universidade como meio ou trampolim para projetos demasiados pessoais. Em segundo lugar, porque recebo o título honorífico de Cidadão Emérito, no momento em que a Universidade brasileira se vê ameaçada novamente por forças que, não contentes em deter-lhe o desenvolvimento, querem torná-la ainda subsidiária de interesses que atingem frontalmente sua liberdade e sua vocação criadora. É realmente o momento difícil para os universitários, mas eles saberão, estou certo disso, dar a resposta que deles se espera como representantes diretos da cultura brasileira.

Resumindo e repetindo, quero dizer que concedendo-me o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre, a Câmara Municipal, presidida pelo meu querido Antoninho Hohlfeldt, não apenas premia alguém que, por quase quarenta anos, se dedicou exclusivamente às lides universitárias e à redação poética, como reconhecem os que como ele trabalham silenciosamente, nos gabinetes universitários ou nas mansardas acesas, em prol da cultura em nossa Cidade e no País. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registramos as presenças dos Vers. Gert Schinke, do PT, e do Líder do Partido dos Trabalhadores Ver. Clovis Ilgenfritz. A extensão da Mesa está composta pelo Sr. Hess, Srª Regina Lamprecht, filho e nora da Homenageada; seus netos Bárbara, Mônica, Marianne, Suzanne e Henrique; os filhos do Casal Ferreira, João e Ricardo Ferreira.

Registramos os fonogramas do Prof. Sérgius Gonzaga, Diretor da Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Prof. Flávio Loureiro Chaves e da Direção da Associação Riograndense de Imprensa, dirigidos ao Professor Ferreira, a quem passamos as mensagens.

Para encerrar esta nossa solenidade nós convidamos novamente o Coral Arco-Íris para duas interpretações: “O Sole Mio” uma versão em português, composição original de autoria de Edi Capo com a tradução de Luiz Rego, e depois “Era uma vez uma Valsa”, de autoria de Franci Lerra.

 

(O Coral Arco-Íris se apresenta.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos agradecer à maestrina Lili Dias, a presença de todas as senhoras, de todos os senhores, registrando ainda, aqui, para nossa alegria, a presença do ex-Procurador do Município de Porto Alegre, Dr. Vizotto, ao amigo Ritter que também, aqui, se encontra presente, agradecemos sua presença.

Pedindo mais uma vez escusas a todos senhores e senhoras pelas condições precárias, nesta Sessão, por força das obras que estamos realizando na Casa e que esperamos, na próxima Sessão, recebê-los com absoluta tranqüilidade. Mas tenho certeza de que a precariedade dos lugares, do espaço foi absolutamente compensado pelo carinho, pelo clima poético desta Sessão na tarde de hoje.

Agradecemos a todos, agradecemos, sobretudo, a oportunidade que a Dona Emília Lamprecht e o Prof. João Ferreira nos dão de homenageá-los em nome da cidade de Porto Alegre.

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h17min.)

 

* * * * *